Mediação falhada exorta Hamas e Israel a "mostrarem flexibilidade" para calar as armas

por Carlos Santos Neves - RTP
O Tsahal destacou já tanques e tomou o controlo da passagem fronteiriça para o Egito, em Rafah Amir Cohen - Reuters

A diplomacia egípcia apelou, nas últimas horas, à flexibilidade por parte do Hamas e do Governo de Israel, tendo em vista selar uma trégua na guerra na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns israelitas "o mais rapidamente possível". Do movimento radical palestiniano sai uma mensagem taxativa: a "bola está do lado" do Estado hebraico.

Foi no decurso de uma conversa ao telefone com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Chukri, enfatizou "a importância de instar as partes a mostrarem flexibilidade e a envidarem todos os esforços para chegarem a um acordo de tréguas e assim acabar com a tragédia humanitária". É o que sintetiza uma nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito.

O país mediador avisa que as negociações no Cairo estão em "fase delicada". Isto depois de as delegações do Hamas e de Israel terem deixado a capital egípcia.O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tem-se mantido irredutível quanto ao que a máquina de guerra do seu país considera ser uma inevitável ofensiva alargada sobre Rafah, no sul da Faixa de Gaza. O Tsahal destacou já tanques e tomou o controlo da passagem fronteiriça para o Egito.

Os negociadores egípcios exprimem igualmente preocupação com "os perigos" de uma incursão terrestre em Rafah, potencial ameaça à "estabilidade" e à "segurança" regionais.

Por sua vez, Antony Blinken reiterou a oposição norte-americana a "uma grande operação militar em Rafah", ou a "qualquer deslocação forçada de palestinianos de Gaza", segundo o porta-voz do Departamento do Estado, Matthew Miller.
"A bola está inteiramente do lado de Israel"
À saída da ronda negocial frustrada na capital egípcia, os negociadores do Hamas quiseram deixar claro que, nesta fase, "a bola está inteiramente no campo da ocupação", ou seja, as autoridades israelitas.

"A delegação negociadora deixou o Cairo em direção a Doha. A ocupação rejeitou a proposta apresentada pelos mediadores, que nós tínhamos aceite. Em consequência, a bola está agora inteiramente no campo da ocupação", afirmou o movimento radical que governa a Faixa de Gaza, em carta às demais fações palestinianas.As delegações despediram-se do Cairo ao cabo de "dois dias de negociações", adiantou a Al-Qahera News. As diligências de Egito, Catar e Estados Unidos "prosseguem para aproximar pontos de vista", acrescentou o mesmo órgão de comunicação, conotado com os serviços secretos egípcios.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio entretanto acenar com a possibilidade de suspender os fornecimentos de armas a Israel, caso a ofensiva sobre Rafah vá por diante.

O primeiro-ministro israelita garante que, mesmo sem o contraforte bélico norte-americano, vai continuar a combater o Hamas.

Recorde-se que, na passada segunda-feira, o Hamas anuiu a uma proposta dos mediadores para uma trégua em três fases - com 42 dias sem combates por cada uma das fases. O plano passaria por uma retirada de tropas israelitas do território e nova troca de reféns israelitas em Gaza e por palestinianos detidos em Israel. A meta seria um "cessar-fogo permanente".

Israel deixou de imediato vincado que o plano ficou "longe das suas exigências", opondo-se a qualquer cessar-fogo definitivo que não passe pela completa derrota do Hamas. Benjamin Netanyahu afirmou mesmo ter ordenado à delegação enviada ao Cairo para que permanecesse "firme nas condições necessárias para a libertação" dos reféns e outras posições "essenciais" para a segurança israelita.

c/ Lusa, AFP e Reuters

pub